Vida e Obra de Maria Antonieta Tatagiba
Nós já sabemos a importância de ler e estudar a literatura do Espírito Santo e agora, vamos conhecer um pouquinho a história da esplêndida escritora e poeta, Maria Antonieta Tatagiba, que fortaleceu e enriqueceu a literatura do estado. Tatagiba foi uma das primeiras mulheres, nascidas no Espírito Santo, a publicar um livro, mesmo com tamanho preconceito que havia no passado em relação às mulheres, quando elas precisavam lutar e se esforçar duas, três, quatro vezes mais para ter a mesma visibilidade que um homem escritor teria. Por isso, aqui neste blog, poderemos contemplar a história de vida e os trabalhos produzidos por Maria Antonieta, que foi grande pioneira na busca por espaço dentro do mundo literário.
A INFÂNCIA DE MARIA ANTONIETA TATAGIBA
Maria Antonieta Tatagiba nasceu no dia 17 de setembro do ano de 1895, em Vitória, capital do estado do Espírito Santo, mas, apesar de ter nascido capixaba, ela passou grande parte de sua vida em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, onde cursou o primário. Quando Maria Antonieta tinha apenas treze anos de idade, seu pai, Arthur Antunes Siqueira, falece, no ano de 1908. Por este motivo, sua mãe, Maria Rita Cássia de Castro, precisou montar uma pensão para trabalhar, cobrir os custos e sustentar os filhos. Diante disso, Maria Antonieta precisa retornar à sua cidade natal, São Pedro do Itabapoana, no Espírito Santo e lá, com mais tempo livre, passou a se dedicar na produção de suas obras literárias, escrevendo vários contos e poesias, que se tornaram livros posteriormente, como "Frauta Agreste" (1927), seu livro formado por poesias.
Nessa época, Maria Antonieta já amava literatura e já havia escrito diversos trabalhos, como obras românticas, por exemplo. Quando jovem, aos 18 anos de idade (1913), decide se mudar para a capital do estado, Vitória. Ela sempre deixou esclarecido que, por mais que amasse literatura e amasse escrever, queria seguir sua caminhada como farmacêutica, no entanto, essa não poderia ser a realidade da escritora, pois era muito difícil ou quase impossível a graduação de mulheres daquela época, principalmente na área da saúde. Por isso, o que o preconceito da sociedade permitia para o mercado de trabalho feminino naqueles tempos, era a formação acadêmica de professora, logo, Maria Antonieta se torna professora pelo Colégio Nossa Senhora da Penha, onde ensinava conhecimentos diversos, como: música, costura, matemática, história e geografia, língua portuguesa e também língua francesa, que, resumidamente, eram conteúdos determinados imprescindíveis, ou seja, que as mulheres tinham a obrigação de saber.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Abaixo temos algumas das obras de Maria Antonieta Tatagiba:
1. IDÍLIO
Na copa de uma acácia florescente
Que o sol no ocaso já não doura mais,
Dizem os passarinhos meigamente
Seus amores em leves madrigais.
Linda esta tarde! Adeja a travessura
Das borboletas pela selva em flor...
Festeja, ao longe, uma alegria pura
A dulcíssima frauta de um pastor.
Nuvens de prata esfiadas em frouxel
Boiam no céu azul... Brisas propícias
As rosas encarnadas do vergel,
Desfolham na subtis, ternas carícias...
E à sombra fresca e verde do arvoredo
Noivos da aldeia... Linda a namorada...
Ele ao pecado não resiste e a medo,
Beija-lhe a linda boca acerejada...
E tal a graça cândida, a meiguice,
Do idílio que ante mim se desvendou,
Que foi, como se a frente se me abrisse
Um precioso leque de Watteau!
2. CROMO
Desfaz-se a neblina fria
Como fiapos de lã...
O céu de azul se atavia
Rompe límpida a manhã...
Lá na igrejinha louçã
O sino canta... alegria...
Na doce vida aldeã
Começa a faina do dia....
E no alto a boêmia lua
Que a noite inteira na rua
Espiou a serenata...
No níveo lençol de prata,
Das nuvens vai se enrolar,
Para dormir e sonhar!
3. MANHÃ DE SOL
O primeiro fulgor, róseo do dia
Doura o oriente, porém, ainda flutua
Um resquício de treva fugidia
Na altura azul onde desmaia a lua.
Apaga-se no céu a pedraria
Dos astros ao clarão que se acentua...
Acordam logo os ninhos... e a alegria
Dos pássaros nos ares tumultua...
A floresta desperta num bocejo,
Sacode os ramos e ao primeiro beijo,
Da luz se agita, lúbrica e pagã...
Numa eclosão violenta de luxúria
Desde a raiz à fronde, à flor purpúrea,
Toda se expande ao sol desta manhã...
4. SOL E CHUVA
Chove... mas nada tão lindo
Como esta franja dourada
Que rebole ao sol, caindo,
Sobre a terra iluminada!
Qual se na chuva estrelada
Viessem os astros fugindo,
Na mata toda orvalhada
De luz - que fulgor infindo!
Cessa a chuva... refrescado,
O céu sorri mais contente
Lá no azul que recupera...
E corta-o um arco irisado
Aberto triunfalmente
À entrada da Primavera...
5. REVOLTA
Hei de esmagar-te, altivo coração,
Tigre que ruge dentro do meu peito,
Nesta sede de amor e de paixão
Em que se mostra sempre insatisfeito.
Há de vencer-te a voz da sã razão
Que te modera o ardor e a teu despeito
Faz-me ver que no mundo tudo é vão,
Que o prazer, qual a dor, é sem proveito...
Porque afinal, ó coração sedento,
Para que servem tuas vãs ternuras
Se não terás o Amor que tu procuras?
Sinto-te em mim qual um pesado fardo,
Uma flor espinhosa como o cardo...
Urna onde mora o mal que é meu tormento...
6. BALADA TRISTE
Vejo cair a chuva neste fim de outono.
Num longo choro as folhas contam sua mágoa...
E em cousas tristes penso - os olhos rasos de água:
Um desengano... uma saudade... um abandono...
O tédio entorna agora um hálito de sono
Na languidez da tarde toda dor e frágua...
E faz-me triste assim - os olhos rasos de água
Talvez pensando... uma saudade... um abandono...
A sombra escorre do arvoredo quedo e prono...
A noite cresce... Solidão... Tristeza... A mágoa
Do desengano... da saudade... do abandono...
Que suavemente vem-me encher os olhos de água,
Dói muito mais, num dia assim, num fim de outono!
7. A UMA ÁRVORE
Todos os anos nesta quadra, vejo
Abrir-se tua fronde em flores mil,
E à áurea trama da luz, num leve arquejo,
Linda, palpitas sob o céu de anil.
O teu rubro frescor atrai o beijo
Da abelha e da libélula gazil...
E em tua rama um eternal festejo
De amor, sorri, por entre os sóis de abril.
E enquanto moves, langue, à aragem calma,
Num gesto de faceira, a ramaria,
Eu penso cheia de melancolia,
Ó árvore, que tens a primavera,
Assim, todos os anos, quem me dera
De novas ilusões vestir minha alma!

VIDA AMOROSA E PROFISSIONAL DE MARIA ANTONIETA TATAGIBA
Maria Antonieta se casou aos 26 anos de idade, com José Vieira Tatagiba (de quem herdou o sobrenome "Tatagiba"), que também era capixaba. Ele teve sua graduação acadêmica (direito) concluída pela Faculdade de Direito, localizada no Rio de Janeiro. José foi juiz, prefeito, poeta e escritor e juntos, eles tiveram quatro filhos: Maria do Carmo Tatagiba, Ruy Vieira Tatagiba (que morreu com apenas 11 meses de idade), Stael Tatagiba Fernandes e o caçula, Geraldo Vieira Tatagiba.
Após alguns anos foi criada a Revista Vida Capichaba, no ano de 1923, da qual Maria Antonieta foi colunista e editora. É importante ressaltar que essa revista foi muito importante para o marco da imprensa capixaba, por trazer assuntos críticos e variados e ser considerada moderna e atual, principalmente para o público feminino de classe social mais elevada. Por ter trabalhado de modo excepcional à frente da revista, Tatagiba ganhou muito reconhecimento: ficou entre as 40 melhores escritoras pela Academia de Letras Feminina do Espírito Santo (AFEL) e também recebeu uma carta de Cecília Meirelles, que elogiou a maestria de suas obras literárias.

Sua morte
Infelizmente, em 09 de março de 1928, com 32 anos de idade, morre Maria Antonieta Tatagiba, de uma doença chamada de tuberculose laríngea. Seu corpo foi sepultado na mesma cova em que seu filho, Ruy, havia sido enterrado, como havia sido solicitado por ela, antes de vir à óbito.
FLEURY, Karina. A Literatura do Espírito Santo na Década de 1920 e a Presença de Maria Antonieta Tatagiba. Morro do Moreno, 2022. Disponível em: <https://morrodomoreno.com.br/materias/a-literatura-do-espirito-santo-na-decada-de-1920-e-a-presenca-de-maria-antonieta-tatagiba.html#:~:text=Seus%20livros%20Contos%20do%20vig%C3%A1rio%2C%201922%2C%20A%20l%C3%B3gica,nacionalmente%20como%20o%20principal%20escritor%20sat%C3%ADrico%20daquela%20gera%C3%A7%C3%A3o.>. Acesso em: 24 out 2022.
LOPES, Andreza; VARGAS, Pedro. Academia Feminina Espírito-santense de Letras celebra72 anos. Prefeitura de Vitória, 2021. Disponível em: <https://www.vitoria.es.gov.br/noticia/academia-feminina-espirito-santense-de-letras-celebra-72-anos-43485>. Acesso em: 24 out 2022.
OLEARI, Don. Maria Antonieta Tatagiba, 125 anos: Comemorações começam no Museu Capixaba do Negro. Don Oleari, 2021. Disponível em: <https://donoleari.com.br/tatagiba-125-anos/>. Acesso em: 24 out 2022.
SALVADOR, Luís. Biografia de Maria Antonieta Tatagiba. Blog do Dodô, 2021. Disponível em: <https://portalmimoso.com.br/blogs/dodo/post/28/biografia-de-maria-antonieta-siqueira.html>. Acesso em: 24 out 2022.
SCOLFORO, Jória. Maria Antonieta Tatagiba e a literatura feita por mulheres. Governo do ES, 2017. Disponível em: <https://www.es.gov.br/Noticia/maria-antonieta-tatagiba-e-a-literatura-feita-por-mulheres>. Acesso em: 24 out 2022.
SODRÉ, Paulo. Frauta Agreste: Maria Antonieta Tatagiba. Univeridade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2020. Disponível em: <https://blog.ufes.br/neples/files/2020/09/Frauta-agreste-de-Maria-Antonieta-Tatagiba.-Neples-set.-2020.pdf>. Acesso em: 24 out 2022.