A vida e obra de Aélcio de Bruim

21/12/2023

Por: Amanda Caroline Furtado Freitas

Nascido em Cachoeiro de Itapemirim-ES, no bairro Aquidabã, em 25 de janeiro de 1951. O pai, descendente belga; a mãe, afrodescendente. Com três anos de idade, o pai, funcionário de Companhia de Energia Elétrica, hoje EDP Escelsa, foi transferido para Vargem Alta. Logo depois, foi transferido para Itapemirim-ES, na localidade de Paineiras, quando o escritor tinha seis anos. Em Itapemirim, Aélcio De Bruim viveu até a fase a adulta, quando mudou-se para a Capital Vitória.

Em Itapemirim, Como não havia escola além do quarto ano primário, Aélcio ia de bicicleta, junto com outros seis amigos, para estudar em Rio Novo do Sul, onde estudou até terminar o Ensino Médio, no Colégio Sul Americano, que funcionava no pátio da Igreja Batista. Assim, Aélcio considera Rio Novo do Sul seu berço educacional, enquanto o Vale do Itapemirim, onde foi criado, o seu berço cultural.

Assim, que terminou o Ensino Médio, o autor diz que os amigos diziam uns para os outros: "agora terminou... agora só a faculdade." E para fazer faculdade, só na UFES, ou seja, na Federal, porque não tinha recurso para estudar numa faculdade particular.

Assim, que mudou-se para Vitória, em 1974, e depois de trabalhar em várias empresas, reforçou o estudo, fazendo um curso pré-vestibular. Deste modo, conseguiu ser aprovado na UFES, para fazer o Curso de Letras Português, 1981.

E foi na Universidade que sentiu o gosto pela literatura. Absorvendo o clima literário, convivendo com poetas, contistas, cronistas, enfim com ótimos escritores, Aélcio não se furtou a escrever também seus contos. E em 1986, numa sala do IC-3 da UFES, lançou seu primeiro livro: ALGUNS CONTOS. Livro este que foi bem aceito em sua esfera do convívio literário.

Depois em 1992, lançou outro livro de contos: DEBAIXO DA FIGUEIRA, trazendo algumas histórias com foco narrativo no Vale do Itapemirim, criando personagens, aproveitando seu saber cultural, sua vivência, naquela região.

Em 2001, lançou outro livro de contos: SEMENTES, com dois contos longos, que trazem a filosofia de dois personagens protagonistas de cada conto, voltados para a indignação com a situação do Brasil.

Em 2005, limitou-se a publicar livros de Cordel, após participar de uma Semana de Palestras na UFES, sentiu que poderia se enveredar neste fazer literário. Assim lançou vários livros de cordel, com destaque para CAPITU E BENTINHO, O RIO ITAPEMIRIM, CINÓ, CARICACICA EM VERSOS E TROVAS.

Em 2007, já morando em Cachoeiro de Itapemirim, teve uma de suas crônicas, O CABO DAS TORMENTAS, classificada em segundo lugar, num Concurso Nacional, promovido pela Academia Espírito-Santense de Letras. Então, o autor teve várias crônicas publicadas nos jornais da cidade e da Capital. Assim, neste mesmo ano, lançou seu livro de Crônicas O CABO DAS TORMENTAS.

Em 2014, lançou mais três livros de cordel, homenageando personagens cachoeirenses, consagrados na cultura nacional: ROBERTO CARLOS – O REI DA JOVEM GUARDA, RUBEM BRAGA EM LITERATURA DE CORDEL e LUS DEL FUEGO.

Depois que o autor passou a ser convidado com frequência para incentivar literatura nas escolas, sentiu que faltavam livros infantis em sua obra. Assim escreveu em 2020, HISTÓRIAS DE UM MACACO EM VESOS DE CORDEL, A FESTA NO CÉU E OUTRAS HISTÓRIAS, A GARÇA E O VENTO, uma trilogia de fábulas, em prosa e versos de cordel, com desenhos para colorir.

Ainda em 2020, publicou seu primeiro livro de poesias: O VERSO E O VALE, deixando para o leitor belos textos poéticos, exaltando a metalinguagem e o conto-poema, numa linguagem em que o leitor e a leitora notam a clara influência de vários poetas do Modernismo Brasileiro, inclusive Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

Em 2021, lançou outra trilogia de histórias e lendas infantis, sendo tema o meio ambiente: O SÍTIO DO DOUTOR VITAL, A FIGUEIRA E O EMPESÁRIO, A ÁGUIA E O FORASTEIRO. Livros trazendo personagens que vivem e protegem a natureza. Também em versos de cordel com desenhos para colorir.

EM 2022, publicou mais três livros: DUDA E O PEDAGOGO, em parceria com sua filha Wycthória Siqueira De Bruim. Buscando o público juvenil, o livro possui um único conto, dividido em várias páginas, com desenhos para colorir. Na história a menina Duda, que ama jogar futebol, trava um diálogo com o pedagogo a quem ela só chama de Tio. Assim a menina se desabafa falando de seus sonhos, seus dilemas, e suas façanhas jogando futebol. ABAYOMI, seu segundo livro de poesias, trazendo textos que seguem a mesma dinâmica do primeiro livro, ou seja, a metalinguagem e o conto-poema. O diferencial neste, é que o autor deixa claro que ama a Democracia e tem pavor de quem defende o racismo. O CARCARÁ é um livro de contos e crônicas. Excelente para o leitor e a leitora perceberem que o autor é um contador de histórias experiente, mas faz questão de diferenciar o conto da crônica.

Em 2023:

No mês de maio, o autor lançou o livro infantil, em prosa, com desenhos para colorir: VOVÓ UCA E A BORBOLETA. É uma bela história educacional que busca as primeiras séries.

Em novembro, o autor está lançando três livros:

A FUGA DE ALGODÃO – Livro infantil, também com desenhos para colorir, contendo uma fábula e um apólogo, justamente para que a criança saiba diferenciar estes dois gêneros literários.

Poesias EM ALTO-MAR – Sem fugir às suas características de exaltar a metalinguagem, o autor lança o poema-conto-fantástico. É o fantástico da literatura numa mistura de conto e poesia. Outra característica que o autor faz questão de exaltar neste livro é a influência das leituras de Cora Coralina, com suas crônicas em forma de poesia. O autor não deixa de relatar alguns episódios neste livro, o que se pode perceber em, pelo menos dois poemas, o seu amor pela democracia.

DUDA E PAULO FREIRE – Este é um livro de conto juvenil, dividido em vários textos. É a segunda parte do livro DUDA E O PEDAGOGO. Uma menina adolescente, Duda, gosta da vida escolar e joga futebol. No início das aulas, ela faz um questionamento com a coordenadora, sobre o nome da Escola. Daí vai evoluindo a ideia e a cada texto vai ganhando nova fase. Assim, a escola mostra que aproveitar as ideias dos alunos está ligado à pedagogia de Paulo Freire.

Vale acrescentar que autor anda pelas escolas públicas de sua cidade e arredores distribuindo livros gratuitamente, aos alunos, fazendo alguma pequena apresentação, contando histórias, quando solicitado. Assim, acredita que incentiva a leitura, o gosto pelos livros, às crianças. Sempre acompanhado de sua frase: LEITURAS SÃO INESQUECÍVEIS. Este é um projeto criado pelo autor, com apoio de familiares, amigos e ex-alunos.

Entrevista com o escritor Aélcio de Bruim

Essa entrevista foi conduzida com o renomado autor capixaba, Aélcio de Bruim. Durante nossa conversa, sobre os temas predominantes em suas obras e a sua visão sobre o mercado literário no estado do Espírito Santo.

· Qual é a sua experiência como escritor?

Sempre digo: o que me credencia a continuar escrevendo são as aprovações nos poucos concursos de que participo.

Em final da década 2000, tive minha crônica O CABO DAS TORMENTAS classificada em segundo lugar no concurso, em nível nacional, organizado pela ACADEMIA ESPRIRITOSSANTESE DE LETRAS.

Durante vários anos, tive várias crônicas e poesias publicadas pelo jornal A Gazeta, quando era o sistema impresso. Ainda neste mesmo jornal, participava com textos de opinião, quase que semanalmente.

Várias crônicas publicadas nos jornais impressos da cidade de Cachoeiro de Itapemirim.

Também constantemente convidado a participar de oficinas literárias nas escolas, fazer palestra na Universidade São Camilo e também em várias escolas daqui do Sul do Estado, onde resido atualmente.

Mas meu grande orgulho mesmo é estar nas escolas públicas distribuindo livros às crianças. Sempre mando um exemplar para a pedagoga e professora para que examinem o conteúdo. Logo me convidam e assim realizo este trabalho maravilhoso.

Posso dizer que passo por experiências maravilhosas e emocionantes. Um momento que muito me emocionou aconteceu em Rio Novo do Sul, na Escola Bodart Júnior. Depois que distribuí os livros, e falei o motivo deste trabalho, para uma turma do terceiro ano, uma menina saiu de seu banco lá detrás, e veio até a mim e me deu um bombom que ela trazia. Na hora agradeci muito, mas depois relatei o fato à professora e ela me disse que a menina é assim mesmo, uma gracinha, apesar de humilde, muito graciosa. O motivo deste relato é porque nós sabemos muito bem o que significa um bombom pra uma criança. Ela me deu o que tinha de mais importante no momento.

· Conte-nos sobre a história que você quer escrever?

É sobre o lugar onde fui criado, no Vale do Itapemirim. Um pequeno arraial, de pessoas trabalhadoras que trabalhavam para uma só família, dona das terras da região e da usina de açúcar que até hoje lá está. O arraial está sendo destruído, ou seja, a família dona de boa parte do município está derrubando as casas que fizeram parte da vida muita gente. As famílias moravam em casas geminadas, eram várias vilas com dez casas geminadas, tipo senzala. Trabalhavam a troco de comida, praticamente, porque o único lugar que tinham para compra era o armazém do patrão, onde os preços eram muito caros. Os descendentes destas famílias hoje já superaram a extrema pobreza em que viviam, e levam vida de superação, com filhos formados e trabalhando em outras áreas, em outros municípios.

· Qual é a parte mais fácil de escrever para você?

A parte mais fácil é quando brota a inspiração. O escritor Machado de Assis se referiu à inspiração como se fosse um pássaro na gaiola bicando para sair. Se não transformar a inspiração em um texto escrito, é como se você traísse a si mesmo. Já houve texto que ficou esquecido no computador e depois de uns dias, quando o reli, até me surpreendi. Sinto que a inspiração é um momento diferente que o autor vive. Um momento em que as palavras vão traduzindo o pensamento com musicalidade e encaixamento entre inspiração e tradução.

· Qual é a parte mais difícil de escrever para você?

É difícil quando alguém me pede para escrever uma história tal. Às vezes um amigo me pede para escrever sobre a vida dele e sua esposa: "nossa história dá um livro." Fico sem graça, e falo com ele que esta é a parte de quem escreve biografias. Eu escrevo contos, crônicas e poesias. Mas mesmo assim, posso ouvir a história sim.

· Quais são os gêneros literários em que você costuma trabalhar?

Os gêneros mais lidos no Brasil: a crônica, a poesia e o conto. Quando era aluno da UFES, na década de 80, os gêneros mais trabalhados eram o conto e a poesia. Alunos e escritores tinham seus textos trabalhados nas salas de aula, pelos professores. Havia um fascínio por estes dois gêneros literários.

Depois em 2006, quando vim para Cachoeiro, senti o clima literário de Rubem Braga, cachoeirense renomado, considerado o melhor cronista do Brasil. Então passei a escrever crônicas, sendo que várias delas foram publicadas nos jornais A GAZETA, de Vitória-ES; e jornais da cidade de Cachoeiro de Itapemirim. Foi assim que publiquei meu livro de crônicas: O CABO DAS TORMENTAS.

Também escrevo poesias de cordel, publiquei alguns livros infantis principalmente usando este gênero literário, por considerar que exerce um fascínio nas crianças. Ou seja, quando leem uma estrofe bem rimada, logo querem ler outra, e depois outra... e quando menos percebem, já leram um livro, com prazer pela leitura.

· Como você desenvolveu seu estilo de escrita?

Posso dizer que, minhas primeiras leituras nas obras de Machado de Assis e do escritor de Dom Quixote, Miguel de Cervantes, percebi que eles usam uma linguagem bem ao alcance do leitor, até mesmo do menos letrado. É a contação de história, num diálogo com o leitor. Depois, li Jorge Amado, e observei sua maneira simples de escrever sobre as histórias das fazendas de cacau, na Bahia. Também, com o convívio literário no Curso de Letras da UFES, tive muita motivação para desenvolver meus textos, buscando um estilo próprio, ou seja, usando uma linguagem ao alcance do leitor mais letrado, ou menos letrado.

· Sua família apoia sua escrita? O que eles pensam sobre isso?

Tenho muito apoio de minhas filhas e meu filho. São meus grandes incentivadores. Meu filho, quando lê um texto que lhe mando, sempre dá opinião pedindo para mudar algum detalhe, principalmente quando uso algum termo que os internautas usam, como rssss... (quando as personagens estão usando o whatsapp) ele não se conforma de que eu use isso num texto. Mas aí, nós conversamos, num bom diálogo literário.

Minha filha, a doutora Eliane Telles De Bruim Vieira, muito me incentiva, dando opinião, com total apoio, até parece que os livros são dela (rssss).

Minha filha Elaine Telles De Bruim Rosseto acha interessante que eu escreva, e sempre me pede os livros. Como sua área é na saúde, limita-se a dar apoio.

Minha filha Wycthória Siqueira De Bruim gosta de trocar ideia comigo sobre os momentos que ela vive na área da Educação. E neste convívio, neste nosso constante diálogo é que surgiu de criarmos a personagem dos livros DUDA E O PEDAGOGO e DUDA E PAULO FREIRE, além de publicarmos o livro de poesias EM ALTO-MAR.

Meus irmãos também me apoiam adquirindo meus livros. Minha Irmã, Heliete De Bruim Babisk é minha leitora de longas datas, desde que comecei a escrever. Ela possui todos meus livros. E sempre que há novo lançamento, ela comenta no grupo, exaltando algum detalhe do livro. Isso desperta curiosidade em outros familiares que se animam a ler os livros.

Mas não posso deixar de mencionar meu sobrinho Miguel De Bruim Clombini, de apenas oito anos. Ele é fascinado por leituras e escrita. Quando à casa de seus pais, ele faz questão de estar ao meu lado, conversando e fazendo várias perguntas, num animado papo literário. Também faço questão de dizer que recebo um bom apoio de amigos e ex-alunos.

· Como você planeja seu tempo de escrita?

Posso dizer que não há este planejamento. Sou aposentado e num dado momento quando me vem a inspiração, se estou passeando, tenho sempre um lápis e um papel, para registrar o momento. Em casa, costumo usar o notebook. Quando não estava aposentado, tirava sempre um tempo para a escrita, o importante é não deixar a inspiração passar. Mas, planejar um tempo para escrita, nunca o fiz. Porque, como eu já disse, o momento da inspiração é imprevisível. E quando aparece, tenho que dar um jeito e criar o tempo.

· Há planos para o próximo livro?

Sim. Posso dizer que no próximo ano, estarei publicano o próximo livro de poesias intitulado O REI, sempre conservando minhas características que são o uso da metalinguagem, o poema-conto, o cenário descrito em versos, o poema-conto-fantástico, sempre fugindo do excesso lírico.

· Seu maior prazer vem da literatura?

Não. Posso dizer que meu grande prazer vem da literatura. É minha vida. Escrever e viver momentos literários fazem parte de minha vida. Não sei viver sem estar vivendo a literatura, criar personagens, usar a linguagem que aproxima o livro do aluno, do leitor mais letrado ou menos letrado.

Mas meu maior prazer é quando estou com a família. Quando estamos reunidos, filhos, netos, irmãos, sobrinhos, minha linda bisneta, primos... oh! Isso não tem preço.

Também, quando estou reunido na igreja, com os irmãos da comunidade católica, também é um momento especial: "Amar a Deus sobre todas as coisas!"

*****

Apesar desses desafios, Aélcio permanece otimista sobre o futuro da literatura no estado. Ele espera que seu trabalho continue inspirando novos autores capixabas na exploração de diferentes gêneros literários e temáticas diversas.

A conversa com Aélcio nos ofereceu uma fascinante visão de suas motivações como escritor e o estado atual do mercado literário no Espírito Santo. Seus pensamentos ressaltam a importância do contínuo apoio à literatura local, para que possamos continuar a desfrutar das ricas histórias que autores capixabas têm para contar.


Referências:

Bruim, Aélcio de; Bruim, Wycthória Siqueira de. Duda e o pedagogo; Ilustrações Ricardo Ferraz. Vitória, ES: Formar, 2022.


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