ENTREVISTAS COM ESCRITORES

Essa entrevista, foi realizada com a autora Renata Bomfim, sobre os temas que a ela busca abordar em suas obras e também, em como ela enxerga o mercado literário no estado do Espirito Santo.

Entrevista com a atriz e poeta Suely Bispo

Nascida na Bahia, radicada no Espírito Santo há 30 anos, Suely Bispo é atriz, historiadora e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo e exerce a profissão de atriz desde 1994. É atriz do Teatro Experimental Capixaba e do Centro de Cultura Guaananira e atua ainda no cinema, com participações em curtas e documentários produzidos no Espírito Santo. Suely interpretou a personagem "Doninha" na novela "Velho Chico", em 2016, na emissora Rede Globo.

Além do mestrado, Suely participou do teatro "Guardiães da Poesia", no início dos anos 90 e se aprofundou na poesia a partir disso.Também fez parte do Grupo Raça, organização que congregava estudantes e militantes negros.

A poeta também participou do Sarau Afro-Tons, em Vitória, e do Coletivo Louva Deusas, de produção de textos e desenhos eróticos de mulheres negras que, em 2015, publicou a coletânea "Além dos quartos", em São Paulo. Foi coordenadora do Museu Capixaba Do Negro (MUCANE) em 2012. É autora também do livro "Resistência Negra Na Grande Vitória".

Seus trabalhos geralmente se relacionam com a valorização da cultura negra, cidadania e ecologia e costuma aliar História, Teatro, Dança e Poesia. Em março de 2009, publicou seu primeiro livro de poemas "Desnudalmas", onde expõe e enaltece suas raízes africanas e traz uma concepção tripartida entre erotismo, religiosidade e arte.


Algumas de suas obras:

Resistência negra na Grande Vitória: dos quilombos ao movimento negro. (2006)


Desnudalmas. (2009)


Lágrima fora do lugar. (2016)


Conversas com o silêncio. (2022)


Em entrevista, Suely responde à algumas questões e nos apresenta um pouco mais de suas opiniões, ideias e aspirações:

 

Sobre sua atuação no mercado literário do Espírito Santo, como você enxerga a aquisição de sua obra?

Suely Bispo: Para falar a verdade, eu não acompanho tão de perto. Com Desnudalmas eu tive mais controle sobre isso. Com o incentivo da Lei Vila Velha, os mil exemplares ficaram comigo. Acho que deixei poucos exemplares em alguma livraria, mas o que destaco é que eu tinha a prática de vender em eventos culturais que participava. Apresentava o livro e os poemas em recitais rápidos, o que estimulava a aquisição. Lembro que vendia muito, e as pessoas ficavam admiradas. Uma vez uma mulher me comparou aos poetas Benilson Pereira e Marcos de Castro, que morreu recentemente, dizendo que era uma versão feminina deles.Eles vendiam nos bares da cidade. O Benilson fazia muito isso nos anos 90.
Quando lancei Lágrima fora do lugar, ainda tinha essa prática. O lançamento foi logo após a novela Velho Chico, e o editor Saulo Ribeiro dizia que era o livro mais vendidoda editora Cousa. Também tive muitos exemplares desse livro que já acabaram, mas ele continua sendo vendido no site da editora. Não tenho acompanhado o desempenho.
Conversas com o silêncio, uma edição de pequena tiragem e também ainda não parei para ver isso. Está sendo vendido pelo site da Pedregulho.
No geral, eu acho que vendo razoavelmente.
 

Quais elementos, pessoas, acontecimentos, etc., te inspiraram/inspiram e despertaram/despertam seu interesse pela literatura?

Suely B.:  Eu tenho interesse pela literatura desde criança, pois gostava muito de ler. Eu acho que meu despertar começa aí. Eu já falei sobre isso no livro Por que você escreve, organizado por Sérgio Blank. Ler me inspira muito, sonhos, sensações, pessoas. Tudo pode me interessar. Minha poesia fala de muitas coisas, mas tem alguns temas recorrentes.
 

Qual a sua relação com o público que lhe acompanha, principalmente em redes sociais? Como você lida com eles?

Suely B.:  Penso que tenho uma relação tranquila. Busco manter o público informado dos acontecimentos, mas sei que poderia ousar mais na minha atuação nas redes, para engajar mais, mas não me proponho. Deve ser porque sou tímida, mas quando posto alguma coisa sinto que a recepção é boa. É um público carinhoso e acho que lido bem. Busco retribuir respondendo as mensagens.
 

Existem planos para um próximo livro?

Suely B.:  O próximo livro que quero publicar mais rápido é a 2ª edição do livro Resistencia negra na Grande Vitória: dos quilombos ao movimento negro, que é um livro de História. Esse livro é uma longa história na minha vida, e eu tenho que publicar e estou buscando recursos para isso.
Em literatura quero publicar um livro de contos, mas ainda vai levar um tempo, de um a dois anos, no mínimo. Comecei a escrever contos em 2020. Quero amadurecer mais essa ideia. Continuo escrevendo poemas também. Os mini contos Sentimento flor e Memórias e sonhos podem ser encontrados em vídeos na internet. São produtos da minha participação em oficinas virtuais da Usinagem de escritas, do escritor Fabrício Fernandes, no período pandêmico.
Sentimento flor: https://www.youtube.com/watch?v=C7zPSdFu7OU&t=99s
Esse vídeo foi um convite do Museu Vale em 2021, eles escolheram esse texto.
Outra novidade é que há pouco terminei uma tradução do espanhol para português, prosa poética de um autor colombiano que mora na Argentina. Um trabalho desafiador que gostei muito de fazer.


Que sensações você experiencia ao compartilhar com o público narrativas tão significativas, ligadas à história e à resistência do movimento negro, às dificuldades e lutas das mulheres em diversos contextos sociais?

Suely B.:  Eu desde muito cedo tenho a consciência das questões étnico-raciais, até porque sinto na pele. O meu primeiro livro publicado, o de história, fala sobre o movimento negro capixaba. O objetivo era fazer registro da história, dando continuidade ao que já tinha iniciado pelo historiador Cleber Maciel, que foi meu professor no curso de História, na Ufes.
Na poesia, muitas vezes, é surpreendente para mim, porque o retorno vai além do que eu poderia esperar. Sempre digo, e é verdade, que não tinha grandes pretensões quando comecei a escrever e publicar. Eu não tinha consciência do alcance que teria, realmente não pensava nisso. Eu só não queria que os poemas ficassem só comigo, que eu precisava compartilhar. Agora as novas gerações eu percebo que já vêm com uma outra postura bem mais consciente do que eu quando comecei. Com o tempo sinto que minha responsabilidade aumenta, e que bom a pessoas se sintam tocadas, inspiradas e despertadas com algo que escrevi. Isso é maravilhoso.
 

De que forma você relaciona seu trabalho como atriz e suas formações acadêmicas com a produção literária?

Suely B.:  Realmente as coisas não estão dissociadas para mim. Eu sempre vou dar um jeito de relacionar essas diferentes áreas. A poesia me chegou com mais força por meio do teatro, com a experiencia que tive com o grupo de teatro Guardiães da poesia, na ufes, nos anos 90. Antes de eu fazer o mestrado e a pesquisa sobre Solano Trindade, já recitava seus poemas e levava para as minhas oficinas teatrais. A performance de dança afro Oxum que apresentei durante muitos anos, o meu poema Oxum fazia parte dela ou a criação de um recital com os poemas de Miguel Marvilla, que não é só um recital, mas um espetáculo teatral, um monólogo denominado Um recital para Miguel Marvilla, que apresento desde 2014. Ser recital ou teatro depende do lugar onde é apresentado. Em 2021 fui convidada por um diretor de cinema para falar poemas no seu documentário A coisa tá preta, então a minha atuação como poeta chegou ao audiovisual. Eu sou muito cinema também.
https://www.youtube.com/watch?v=_fNXmlqZO 
esses são alguns exemplos.

ESTER ABREU VIEIRA DE OLIVEIRA

Fonte: Currículo Lattes


Ester Abreu Vieira de Oliveira (Muqui, 31 de janeiro de 1933) é uma professora capixaba, poetisa, ensaísta, autora de livros bibliográficos, didáticos, análises literárias e artísticas. Conhecida no Espírito Santo, recebeu inúmeros prêmios acadêmicos importantes devido à sua obra, na maioria com relação à língua hispânica, na qual é autoridade. Hoje aposentada, mantém suas atividades como voluntária na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), atuando em pesquisas na área de Estudos Literários no mestrado e doutorado de Letras, que intercala entre viagens e suas produções literárias.

Nascida em Muqui, Ester possuía uma mãe professora que sabia da importância de se bem educar, igualmente, filhas e filhos, por isso, pôde frequentar as melhores escolas do sul do Espírito Santo. Vindo para Vitória, bacharelou-se em Letras Neolatinas, na antiga Faculdade de Filosofia (Fafi), em 1958. Depois, cursou, também na Fafi, Didática Especial de Espanhol e Português, de 1959 a 1960. Ester Abreu foi professora em todos os níveis de ensino. Em 1965 começou a lecionar na UFES. Ensinou Português para Estrangeiros, Espanhol e Literatura Espanhola e Língua Portuguesa. Ester participa de congressos internacionais em diversas partes do mundo e é destaque mundial em sua área de conhecimento.

Mesmo já aposentada, Ester Abreu nunca deixou de participar de funções administrativas na Ufes. Coordenadora de cursos, coordenadora de extensão, subchefe de departamento, coordenadora do Núcleo de Línguas, decana do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN, antigo Centro de Estudos Gerais – CEG), foi, por muitos anos, presidente da Associação de Professores de Espanhol do Espírito Santo, Presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras e, atualmente, da Academia Espírito-santense de Letras.

Devido ao fato de nunca ter parado de produzir, possui centenas de trabalhos publicados dentre livros didáticos, ensaios, artigos e publicações em anais. É a articulista que mais publicou na Revista do IHGES, criada em 1917, e na Revista da AESL, desde 1998.


Vida Acadêmica:

Graduou-se em Letras Neolatinas, (Espanhol) pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) - 1960 - 2ª turma)
Especialista em Filologia Espanhola (Madri), Especialista em Português Superior – Universidade de Lisboa (1968)
Mestra em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1983)
Doutora em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1994
Pós-doutorado em Filologia Espanhola (Uned), em Madrid, em 2003
Participa voluntariamente do Colegiado do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGL) da Ufes - Mestrado e Doutorado – e atua na área de Letras, atualmente, em teatro, poesia e narrativa da literatura hispânica, literatura brasileira e literatura espanhola.
pesquisadora da Linha de Pesquisa Poéticas da Antiguidade à Pós-Modernidade (PAP)
líder do grupo de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): Estudos de literatura hispânica: caminhos e tendências
Tem participado como representante de instituição em comissões e conselhos culturais estaduais e municipais.
Tem trabalhos publicados (impressos, on-line e CDs) em revistas especializadas, em jornais e em anais de congressos com temas referentes às línguas e às literaturas espanhola e brasileira e, ainda, livros didáticos e infantis, tradução de obra, livros de poesia, de crônicas e de ensaios
Pertence à Academia Espírito-santense de Letras (AESL), Cadeira 27, sendo sua Presidente desde 2019, à Academia Feminina Espírito-santense de Letras (AFESL), Cadeira 31, ao Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), à Associação de Professores de Espanhol do Espírito Santo (APEES, membro fundador), à Associação Brasileira de Hispanista (ABH, membro fundador), à Asociación Internacional de Hispanista (AIH), à Asociación Internacional del Teatro Español y Novo Hispano (Aitenso)

Livros:

  • O mito de Don Juan: sua relação com Eros e Thanatos (livro de maior visibilidade)

  • O lagarto amedrontado do jardim

  • Metapoemas: a poesia entorno da sua própria tessitura

  • O coelhinho e a onça

  • Recordações de Muqui – Cidade Menina – em prosa e verso

  • Iberia dividida

  • Momentos

  • Português para estrangeiros

Entrevista realizada com a autora:


Entrevistador: Letícia (L)

Entrevistado: Ester Abreu (E.A.)


L: Primeiramente boa tarde pra todos e a todas. Primeiramente Ester, gostaria de agradecer, eu e meu grupo à entrevista concedida, por você fazer esse convite deixar trazer nós aqui até a sua casa e a gente gostaria de conversar um pouquinho com você, fazer essa entrevista, nosso trabalho, mas também para conhecer mais sobre você, suas obras então a gente preparou umas perguntinhas e a gente vai conversando. A primeira pergunta é: qual é o papel da leitura na formação do cidadão?


E.A.: Na formação… A leitura é um transportador de conhecimentos. O livro é mais do que uma enciclopédia do que um mundo. Em Borges mesmo na sua obra quando ele fala de bibliotecas, ele fala deste mundo. Este mundo que parece que não é nada, que é um amontoado de papel, mas ele é um amontoado de ideias, de vida, de um universo inteiro. Então quem lê só pode adquirir conhecimento, cultura e uma interpretação pessoal também da própria personalidade. Então, a leitura é uma formadora de conhecimento, formadora do cidadão também, move ideias, traz novo mundo pra pessoa.


L: Também tem a questão de conhecimento.


E.A.: É uma viagem. É o Vasco da Gama andando, descobrindo o mundo, andando lá pelos mares antes nunca trafegados. Também quem lê conhece mundos nunca trafegados, vê ilhas, recôncavos e o universo inteiro, vê céu e mar.


L: Grandes experiências.


E.A: Profundidade. Várias ciências.


L: E a próxima pergunta é: qual o combustível para suas produções literárias? De onde você tira, tem esse combustível?


E.A: Olha, eu tenho variedade de obras, sabe. Por exemplo, aquela estante ali são só obras minhas, sim. Fora dele têm ali, antigamente era em CDs, não têm muitos CDs, têm ali vários CDs e tal, antes era assim. Agora também a gente vê muito no (aponta para computador). Cada um vai me trazer um caminhar. Se eu faço uma tradução, por que que eu tô traduzindo aquilo? Eu vejo uma obra, quero que o outro vê aquela beleza, então eu procuro não só destacar aquele escritor, aquela pessoa que escreveu, como também fazer que um outro venha conhecer uma obra que ele não tenha acesso àquela linguagem, uma tradução. No livro didático, eu procuro, agora eu não tô fazendo livro didático, eu procurava auxiliar o aprendiz a melhorar o conhecimento, trazer uma mais força pra ele no seu escrever, quando é um didático. Quando é um ensaio, mais ou menos isso também, você lê uma obra, você vê beleza nela, então você quer que o outro encontre aquele conhecimento seu e mais outro que ele possa adquirir. E quando é um conto, você procura trazer uma história, uma coisa que tenha um pouco de, que venha um pouco de você mesmo ali né, de alguma história que você conhece, que você quer fazer pra distrair. Se é uma poesia, já é outro objetivo, você escreve porque você viu um belo, você viu uma situação e você transformada a sua alma, naquele beleza, você necessita dispor pra descansar o seu espírito. Então, há várias nuâncias nessa produção. Depende aí se você tá fazendo um ofício, já é outra coisa, cê quer comunicar alguma coisa.


L: Infinitas possibilidades.


E.A.: É. Então, a escrita traz vários caminhos que vai depender do objetivo. Que caminho você quer? Você quer seguir a trilha pra ir à uma montanha, você quer seguir uma estrada asfaltada, você quer ir por uma estrada de ferro. Aí vai depender do seu caminhar, do que você quer, da pressa que você tem.


L: Sim. E aproveitando de gancho, quanto de você há nas suas obras?


E.A.: Todo mundo, quando se você quer, um pouco do amor que você tenta expandir no desejo. Tudo é uma escolha, tudo que você faz. Se você faz um caminho, você viu um caminho, tem uma encruzilhada, se você segue aquele caminho da encruzilhada, ou esquerda ou direita, é porque foi uma escolha que você fez que você tem que seguir aquele caminho. E aí é uma escolha sua, mas se é uma escolha sua tem muito do seu desejo, do que você quer encontrar, do que você vai ver alí. Naquele filme Mágico de Oz, que os meninos vão caminhando, quantas vezes encontram um obstáculo e vão ver qual seguir pra chegar ao mundo mágico. E esse mundo mágico é justamente o fim do ponto final que nunca tem fim, então sempre essa busca, novo horizonte.


L: Sempre têm coisas novas pra conhecer.


E.A.: E depois, depende da idade, da época, tudo tem um objetivo, varia.


L: E a outra pergunta é: a literatura é para todos, mas todos são para a literatura?


E.A.: Se a literatura é para todos - eu vi essa pergunta de vocês - se é para todos, é que está aberta para o mundo. É claro que há pessoas que não gostam de ler. Tive alunos de letras mesmo, quantas vezes. As vezes, antigamente, a gente participava de exame oral e a gente perguntava. Eles liam só os resumos só para fazer a prova, mas o texto não interessava. Por que ler? Não via necessidade de ler aquilo. Eu não sei, eu desde menina li muito. Sempre li muito. Lia, lia, lia. Já a minha irmã não lia tanto. Eu não sei, eu ainda não sei o que faz uma pessoa gostar de ler. Eu acho que depende da personalidade da pessoa. Pessoas que sonham muito, acho que procuram ler mais. Pessoas que sonham, mas são mais objetivas talvez, não são tão do mundo da lua, talvez eles leêm menos. Não sei, é tão relativo.


L: Eu acho que talvez depende da base familiar.


E.A.: Não, não é tanto não, porque as vezes você encontra uma pessoa criada num ambiente de livros que não lê, e as vezes você encontra uma pessoa criada num ambiente sem livros, e depois lê. Acho que é um caminho que a pessoa escolhe. Pode ser que a pessoa que foi criada com muitas histórias se desperte mais para o sentimento dos sonhos, do lazer, que é um lazer lúdico, mas eu não sei por que. Frequentemente eu vejo pessoas dizendo 'eu não leio'. Não lê livro, mas ler atualmente, todo mundo tem que ler. É ler no computador, ler no Whatsapp, ler no outdoor. A leitura está neste mundo. A criança já começa a ler, já tá lendo. Agora, o ler. Eu li um livro aí, novecentas páginas. Então, muitos colegas assim, 'ah, eu só leio cem, duzentas páginas'. Então, tem gente que não lê. Claro que você pra ler, também, precisa ter persistencia. Você começa a ler, pode cansar, pode continuar e tudo. E ao mesmo tempo ter memoria, pra guardar o que veio antes, pra seguir na leitura. Então, acho que depende muito de persistência também. Então, vários fatores. A gente não pode dizer que é por que é familiar, não é só familiar não. Tem famílias até de escritores que não lêem.


L: Coisa muito relativa.

E.A: Eu não acredito. Pode ser que facilita. Você vivendo num mundo de sonhos, você vai continuar num mundo de sonhos.


L: E a última pergunta é: você acredita que existe uma literatura capixaba ou uma literatura feita no Espírito Santo?


E.A: Olha, existe uma literatura portuguesa, e eu estudei. Estudei literatura italiana. O que fazia a literatura portuguesa, ia desde os inícios mostrava a cultura, a produção portuguesa, a produção italiana, a inglesa a mesma coisa, a americana. E a do Brasil? A literatura brasileira você vê o que, você vê uma obra de Raquel de Queiroz, lá do Nordeste. Você lê do Norte, você lê de Érico Veríssimo que é do Sul. você lê de Minas o poeta Carlos Drummond, você diz que Carlos Drummond é mineiro? Você diz que Carlos Drummond faz parte de uma literatura mineira? Você diz que Érico Veríssimo só pertence a literatura gaúcha? Então, o que falta? Uma divulgação do escritor. Levar o escritor para ser conhecido no Brasil todo e no mundo, mas ele pertence ao Brasil. Então, ela está incluida na literatura brasileira que é claro que produzida em Minas, no Brasil, em Natal. E dizer que o poeta de Mato Grosso, ele é matogrossense, ali ele fala dos rios, do peixe, outro fala dos bois, da história do Rio Grande do Sul, mas não quer dizer que seja literatura. Assim, a gente diria que nosso poeta Manuel Bandeira, pernambucano, ele pertence ao Brasil, ao mundo de conhecimento. Claro como quem fala, fala um pouco de si, o escritor capixaba, que conhece, que ama Vitória, ou ama Colatina, ou ama Cachoeiro de Itapemirim vai falar do que ele conhece. Por que todo mundo pra escrever precisa falar do que ele sabe, do seu conhecimento. Pra ele falar do outro mundo, ele tem que estudar, ele tem que pesquisar pra fazer. Ele pode falar de um outro mundo, ou inventar um outro mundo. Mesmo que ele invente outro mundo, a partir daquele invento ele tem que partir de uma realidade conhecida. Nada é feito, imaginário sem ter um ponto real no presente. Então, não existe dizer 'ah essa é a literatura capixaba'. É literatura produzida aqui, que nasceu no Espírito Santo, ele pode ter um conhecimento nacional e internacional, mas lugar de nascimento é o que vale.


L: Ok, Ester. Agradeço a sua atenção, por responder nossas perguntas, estar contribuindo pro nosso trabalho, mas também estar divulgando nossos autores capixabas e suas obras. Obrigada por tudo.

Referências

Entrevista com Ester Abreu. Vídeo. 15min55s. Publicado pelo canal Leticia Alves Silva. 22 jun. 2024. Disponível em :  https://www.youtube.com/watch?v=b0VrxL3Tfdg . Acesso em: 10 out. 2024.

RIBEIRO, Francisco Aurelio. Ester Abreu Vieira de Oliveira: um percurso (2022). Fernão: Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo (Neples), v. 4, n. 8, p. 127-140, 2022.

MASCARENHAS, Andréa Gimenez. Mutações: entre o sonho e a poesia (2021). Fernão: Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo (Neples), v. 4, n. 8, p. 101-106, 2022. 

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