BLOG

Você conhece Judith Leão Castelo Ribeiro? Esta talentosa escritora capixaba nos presenteia com poemas que tocam o coração e despertam emoções profundas. Convidamos você a explorar sua obra, que reflete a beleza da cultura brasileira.

Ao olhar o mar, a sua energia e beleza nos encanta. Com o cintilar da luz do sol ou o brilho do luar, o mar, na sua infinita imensidão, traz paz. Mas, será que o mar sempre é lembrado dessa forma? Orlando Lopes, em seu poema Mudou-se o tema (onde o mar começa), publicado em 2007, convida-nos a...

Guilly Furtado Bandeira - Vida e Obra

Por: Suziane Ruster Vesper

Esta publicação possui como objetivo uma breve apresentação sobre Guilly Furtado Bandeira, primeira mulher capixaba a publicar um livro, e um pequeno resumo sobre a única obra publicada pela escritora: Esmaltes e Camafeus. Outrossim, é esperada a aproximação do leitor para com o conhecimento sobre a literatura capixaba e sobre os seus agentes pioneiros

Nascida no estado do Espírito Santo, em 12 de março de 1890, era filha do militar paraense Francisco Raymundo Furtado Júnior e de Laurentina Tesch Furtado. Quando ainda criança, mudou-se para o Pará, devido à carreira de seu pai, e realizou seus estudos fundamentais no estado, onde, mais tarde, formou-se em Direito (DRUMOND, 2014). Lá, com interesses diversos, principalmente literários, desempenhou trabalhos jornalísticos no jornal A Província do Pará, onde publicou poemas e atuou na redação (RIBEIRO, 2010).

Um dos fatores que marcam o seu pioneirismo está no fato de que seu exercício alcançou notoriedade a ponto de lhe garantir o convite para assumir o posto de uma das fundadoras da Academia de Letras do Pará, em 1913, aos vinte e três anos de idade. Destaque maior por ainda estar solteira ao receber a honraria, em um meio no qual os títulos ao público feminino eram limitados, em razão de diversos preceitos sociais e morais.

Guilly Furtado Bandeira foi considerada, durante muito tempo, como a primeira mulher a entrar em uma academia de Letras, no Brasil. No entanto, soube-se que, anteriormente a ela, Eurídice Natal e Silva assumiu esse pioneirismo, como fundadora da Academia de Goiás, em 1904, como a primeira mulher a dirigir uma Academia de Letras no país (DRUMOND, 2014).

Em 1914, aos vinte e quatro anos de idade, Guilhermina Tesch Furtado publicou seu primeiro e único livro, Esmaltes e Camafeus, pela filial carioca da editora francesa Garnier. O livro concentra trinta contos, com personagens mitológicos, folclóricos e temáticas diversas, como: a condição feminina; a bigamia feminina; a prostituição, o determinismo social ou biológico; o ceticismo e os ensinamentos religiosos; a educação monacal; a realidade social; a vida urbana; o poder judiciário; o tédio.

Quanto ao seu estilo de escrita, pode-se afirmar que não se filiava a uma escola literária precisa, e que mesclava características do Realismo, do Naturalismo, do Parnasianismo, do Impressionismo e do Simbolismo (DRUMOND, 2014; RIBEIRO, 2010).

No mesmo ano em que lançou Esmaltes e Camafeus, casou-se com um militar paraense chamado Raimundo Bandeira - de quem adotou o sobrenome - e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve dois filhos: uma menina que faleceu precocemente, e um menino, Ery Furtado Bandeira, que na vida adulta tornou-se militar, tal qual o pai e o avô. Dessa forma, ao que tudo indica, inicia-se em 1914 um período de dedicação à vida matrimonial e à maternidade, de modo que sua carreira no campo das Letras reduziu-se.

Sabe-se que após a publicação, em 1914, Esmaltes e Camafeus permaneceu esquecido entre o público. Um único exemplar da obra, que permitiu o maior conhecimento a respeito e a produção de cópias, foi localizado na Biblioteca Nacional, por Simone Baptista, uma pesquisadora capixaba. Outras amostras do mesmo período de publicação não foram localizadas em bibliotecas do Espírito Santo ou entre os familiares da artista (RIBEIRO, 2010).

Apesar de ter havido uma redução nas produções, Guilly Furtado Bandeira continuou escrevendo para a revista Vida Capichaba, entre 1924 e 1954. Depois de 1954, viveu de forma reclusa, sem se envolver com o mundo literário. Entre os anos de 1953 e 1967, trabalhou no Ministério da Educação e Saúde, aposentando-se em 1967. É inquestionável sua contribuição à literatura e à sociedade do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Pará. Frente a isso, uma exaltação lhe foi concedida, em 2010, ao ser imortalizada na 39° cadeira da Academia Feminina do Espírito Santo. Foi uma mulher sonhadora que canalizou suas frustrações e prazeres em textos que impactaram uma sociedade cheia de embates (DRUMOND, 2014; RIBEIRO, 2010).

No final de sua vida, a escritora retorna para o Espírito Santo e reside em Vila Velha, com seu filho já aposentado. Morreu aos noventa anos de idade, debilitada fisicamente e com implicações mentais (DRUMOND, 2014).

Sobre Esmaltes e Camafeus

Esmaltes e Camafeus, único livro publicado por Guilly Furtado Bandeira, e considerado o primeiro de autoria feminina capixaba, foi lançado em 1914, pela editora francesa Garnier, no Rio de Janeiro. A publicação reúne trinta contos ao todo: vinte e nove contos de autoria de Guilly Furtado Bandeira e um conto do escritor polaco H. Sienkiewicz.

Os textos tematizam, por exemplo, o cotidiano vivenciado pelas mulheres da época, a condição feminina na sociedade, a bigamia feminina, o olhar sobre a prostituição da mulher, as condutas religiosas, a hierarquização social, o desprezo pela vida urbana, os erros do poder judiciário e o peso do tédio. Em todos eles, a presença da natureza é notável e merece atenção, uma vez que a descrição da paisagem ganha papel primordial nas narrativas.

Esmaltes e Camafeus constrói-se a partir da combinação entre tendências literárias diversas, isto é, há um hibridismo entre Realismo, Naturalismo, Impressionismo e Simbolismo, bem como ideais da filosofia de Nietzsche e Vargas Vila, conforme afirma Francisco Ribeiro (2010).


Referências:

DRUMOND, Josina Nunes. Esmaltes e Camafeus: retratos de mulher. Vitória: Opção, 2014.

RIBEIRO, Francisco Aurelio. Guilly Furtado Bandeira, uma capixaba pioneira na Academia. Revista da Academia Espírito-santense de Letras. Vitória: Formar. v. 13, p.31-56, 2010.




Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora